'Rua das Crianças Corajosas': conheça jogo que ensina a prevenir abuso sexual infantil
01/06/2025
(Foto: Reprodução) Projeto surgiu a partir do TCC de Jésia Vunschel Gualter. Trabalho foi um dos vencedores da premiação internacional iF Design Student Award 2025. Jogo Rua das Crianças Corajosas
Imagem cedida/ Jésia Vunschel Gualter
No tabuleiro, uma cidade. Nas cartas, perguntas com um jeitinho lúdico. E, no centro de tudo, uma missão: ensinar as crianças a se protegerem. Assim nasceu "Rua das Crianças Corajosas", o jogo criado por Jésia Vunschel Gualter, designer formada pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-rio-grandense (IFSul), em Pelotas, no Sul do RS, que transformou um tema delicado — ao abuso sexual infantil — em ferramenta de conversa, cuidado e, acima de tudo, prevenção.
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O jogo é pensado para crianças a partir dos quatro anos de idade, mas não se joga sozinho. Um adulto precisa estar presente, lendo as cartas e mediando as reflexões.
A cada jogada, surgem situações reais do cotidiano infantil e, junto delas, questionamentos:
Como saber se um segredo é bom ou ruim?
Crianças podem beijar na boca, namorar ou se casar?
Você sabe como um médico ajuda um bebê a nascer?
As respostas não são automáticas, provocam o pensamento e abrem espaço para o diálogo.
"A criança vai aprender vários conceitos como tipos de toque, tipos de segredos, várias e várias questões que eles vão interagindo", explica Jésia.
Além das cartas, há dinâmicas físicas que ajudam os pequenos a entenderem os limites do próprio corpo.
Quais partes ninguém deve tocar? Como identificar o que é seguro? A ideia é dar nome ao que muitas vezes fica guardado em silêncio e evitar que esse silêncio vire dor, diz a criadora.
Segundo dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), mais de 3,8 mil jovens foram vítimas de violência sexual no Rio Grande do Sul, só no último ano. Crianças entre 6 e 11 anos compõem a maioria dessas vítimas.
O tabuleiro que virou missão de vida
Jogo Rua das Crianças Corajosas
O jogo começou como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) no IFSul, em Pelotas, apesar de Jésia ser de São Lourenço do Sul. No entanto, logo ultrapassou os limites da defesa do projeto em setembro de 2024.
Foram dois anos de pesquisa. Jésia conversou com professoras da rede pública, mergulhou em estudos com psicólogas especializadas e traçou cada detalhe do jogo com extremo cuidado.
"Precisava entender de que forma eu poderia abordar sobre um tema tão sensível", comenta.
A professora orientadora do projeto, Mariana Piccoli, acompanhou tudo de perto. "Acho muito bonito quando o aluno ele vem com essa vontade de fazer alguma coisa que ajude a melhorar o mundo, e no caso da Jésia tá sendo um resultado incrível", diz Mariana.
Designer Jésia Vunschel Gualter e orientadora Mariana Piccoli
Imagem cedida/ Jésia Vunschel Gualter
Do IFSul para a Espanha
Mas qual a relação do curso de design com a temática escolhida para o projeto? Jésia explica:
"O design, a gente sempre tem essa preocupação de fazer ou de transformar algo pra sociedade. A gente sempre pensou em algo que fosse fazer diferença", diz.
O impacto do "Rua das Crianças Corajosas" foi tão grande que ultrapassou fronteiras. O projeto foi um dos vencedores da premiação internacional iF Design Student Award 2025, competindo com mais de sete mil propostas do mundo inteiro.
Agora, Jésia foi convidada a ir até a Espanha para receber o reconhecimento e está em busca de apoio para conseguir representar o Brasil lá fora e para fazer mais reproduções do jogo. Com esse fim, ela conta com doações de recursos.
"Eu não imaginava ter essa repercussão toda, sendo bem sincera. Fico muito feliz e tem me motivado mais ainda a seguir nisso", relata.
Mas ela já tem os olhos no futuro: Jésia quer levar o projeto para as escolas do Brasil.
"Quero muito que chegue na escola pública. A gente sabe que, também pelos dados, é onde tem mais abuso das crianças. Mas eu queria poder ir nas escolas trazer informações, trazer a importância. Mostrar que é relevante, que eles podem e devem ensinar sobre, que isso é permitido", expõe.
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